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Lipedema: Sabe o que é a doença das “pernas gordas”?

O lipedema é uma doença crónica ainda pouco conhecida em Portugal, mas que afeta uma percentagem significativa de mulheres em todo o mundo. Muitas vezes chamada de “doença das pernas gordas”, esta patologia não deve ser vista apenas como um problema estético ou resultado de maus hábitos alimentares.

Pelo contrário, trata-se de uma alteração séria no tecido adiposo, de origem genética e hormonal, que provoca o depósito anormal e doloroso de gordura em determinadas partes do corpo, sobretudo nas pernas e quadris.

Apesar de já estar descrita na literatura médica há várias décadas, continua a ser pouco diagnosticada. Em muitos casos, as mulheres passam anos a ouvir que o seu problema se deve ao excesso de peso, sem saber que têm uma condição específica que não melhora com dieta ou exercício físico.

Este artigo procura esclarecer em detalhe o que é o lipedema, os sintomas, as fases da doença, as opções de tratamento e a forma como pode afetar a qualidade de vida.

O que é o lipedema?

O lipedema é uma doença crónica caracterizada por acumulação desproporcional de gordura em determinadas zonas do corpo.

Essa gordura não se comporta como a gordura normal: não desaparece mesmo quando a pessoa perde peso de forma significativa e está frequentemente associada a dor e sensibilidade.

É comum que o tronco e a parte superior do corpo mantenham proporções consideradas normais, enquanto as pernas parecem volumosas, pesadas e desproporcionais.

Esta característica faz com que muitas mulheres se sintam frustradas, já que podem ter um estilo de vida saudável e, ainda assim, não conseguem alterar a aparência das pernas.

Sintomas do lipedema

Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mas existem sinais típicos que ajudam a identificar o lipedema.

A acumulação simétrica de gordura nas pernas é um dos mais evidentes, já que ambos os lados aumentam de volume de forma igual, criando uma desproporção clara entre o tronco e os membros inferiores.

Outro sinal importante é o facto de os pés e as mãos se manterem inalterados, o que diferencia o lipedema do linfedema.

A dor e a sensibilidade ao toque também estão presentes. Muitas mulheres relatam sensação de peso constante, formigueiros e dor que pode agravar-se ao final do dia. Os hematomas são igualmente frequentes, surgindo mesmo após pequenos impactos, devido à fragilidade dos capilares.

Além disso, existe grande dificuldade em perder gordura localizada, mesmo com dietas restritivas e prática regular de exercício físico. Outro aspeto que reforça a origem hormonal da doença é o agravamento dos sintomas durante a puberdade, a gravidez ou a menopausa.

Com o avançar da doença, os sintomas tornam-se cada vez mais limitadores, podendo afetar a mobilidade, a autoestima e até a vida social das mulheres que convivem com esta condição.

Causas e fatores de risco

As causas do lipedema não estão completamente esclarecidas, mas há evidências de que fatores genéticos e hormonais desempenham papéis fundamentais.

Influência genética

Estudos apontam para uma forte predisposição hereditária. Muitas mulheres diagnosticadas relatam que mães, avós ou irmãs apresentavam sinais semelhantes, ainda que nunca tenham recebido diagnóstico formal.

Esta transmissão familiar indica que os genes podem ser determinantes no desenvolvimento da doença.

Alterações hormonais

O lipedema está intimamente relacionado com as hormonas femininas. É nas fases de maior oscilação hormonal que a doença geralmente se manifesta ou se agrava. Puberdade, gravidez e menopausa são momentos críticos, e o facto de quase exclusivamente afetar mulheres reforça esta ligação.

Peso corporal e estilo de vida

Embora o lipedema não seja causado por obesidade, o excesso de peso pode piorar os sintomas.

Mulheres que já apresentam lipedema podem desenvolver obesidade em simultâneo, o que agrava a dor, a inflamação e as limitações físicas.

lipedema

Estádios do lipedema

A evolução do lipedema é gradual e pode ser classificada em quatro estádios clínicos.

Estádio I

A pele ainda parece lisa e uniforme, mas já existe acumulação de gordura macia ao toque. As primeiras queixas de peso nas pernas e a tendência a hematomas começam a surgir.

Estádio II

A pele apresenta irregularidades visíveis, como pequenas ondulações. O tecido adiposo torna-se mais firme e começam a formar-se nódulos. A dor aumenta e a sensibilidade dificulta atividades simples como subir escadas ou caminhar longas distâncias.

Estádio III

O volume das pernas aumenta de forma considerável, criando deformações visíveis e tornando a mobilidade mais difícil. O esforço físico diário passa a ser acompanhado de dor intensa, e a autoestima é fortemente afetada.

Estádio IV

Nesta fase, o lipedema evolui para lipolinfedema. O sistema linfático fica comprometido, surgindo inchaço constante, sensação de rigidez e complicações associadas à acumulação de líquidos.

Lipedema: Sabe o que é a doença das "pernas gordas"?
Lipedema: Sabe o que é a doença das "pernas gordas"? 2

Diferença entre lipedema e linfedema

Embora semelhantes à primeira vista, o lipedema e o linfedema têm diferenças claras. O lipedema caracteriza-se pela acumulação anormal de gordura, afetando pernas e, por vezes, braços, de forma simétrica e sem comprometer pés ou mãos.

Está frequentemente associado a dor e hematomas. Já o linfedema resulta da acumulação de líquidos devido a falhas no sistema linfático. Pode atingir pés e mãos, é muitas vezes unilateral e tende a agravar-se ao final do dia.

É importante realçar que uma mulher pode ter as duas condições em simultâneo, o que complica o tratamento e exige acompanhamento especializado.

Diagnóstico do lipedema

O diagnóstico deve ser realizado por médicos especializados em angiologia ou cirurgia vascular.

Avaliação clínica

Inclui observação da distribuição da gordura, avaliação de sintomas como dor, hematomas e sensibilidade, bem como a análise do histórico familiar da paciente.

Exames complementares

Ainda que o diagnóstico seja sobretudo clínico, exames de imagem como ecografia e ressonância magnética ajudam a descartar outras doenças e a confirmar a presença de alterações no tecido adiposo.

O diagnóstico precoce é essencial para adotar medidas adequadas e melhorar a qualidade de vida.

Tratamentos para lipedema

Embora não exista cura definitiva, vários tratamentos podem ajudar a controlar os sintomas.

Tratamentos conservadores

A drenagem linfática manual é uma das técnicas mais utilizadas para aliviar o inchaço e proporcionar alívio imediato da sensação de peso. O uso de meias de compressão é igualmente recomendado, pois favorece a circulação e reduz a progressão da doença.

O exercício físico deve ser adaptado, privilegiando atividades de baixo impacto como natação, hidroginástica e pilates.

A alimentação desempenha também um papel fundamental: uma dieta anti-inflamatória, rica em frutas, legumes, peixe, sementes e alimentos com ómega-3, pode reduzir desconfortos e melhorar a energia.

meias de compressão

Tratamentos cirúrgicos

Nos estádios mais avançados, pode ser recomendada a lipoaspiração específica para lipedema. Este procedimento cirúrgico remove a gordura doente de forma seletiva, preservando os vasos linfáticos.

Além de melhorar a mobilidade e reduzir a dor, contribui para uma silhueta mais harmoniosa, ajudando a restaurar a confiança da paciente.

Impacto emocional e social

O lipedema não se limita a sintomas físicos. Muitas mulheres sentem vergonha do aspeto das suas pernas e relatam comentários injustos de quem acredita que não se cuidam.

O impacto psicológico pode ser devastador, levando a baixa autoestima, isolamento social, ansiedade e até depressão.

O acompanhamento psicológico é, por isso, essencial, ajudando na aceitação da condição e no fortalecimento emocional.

Lipedema: Sabe o que é a doença das "pernas gordas"?

Mitos e verdades sobre o lipedema

É frequente circularem ideias erradas sobre o lipedema. Uma das mais comuns é acreditar que se trata apenas de obesidade, quando na realidade são doenças diferentes. Outro mito recorrente é pensar que basta emagrecer para resolver o problema.

A verdade é que a gordura do lipedema não desaparece com perda de peso. Por outro lado, é correto afirmar que a doença tem origem genética e hormonal e que precisa de acompanhamento especializado.

Também é verdade que, embora não exista cura, há formas eficazes de controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

Estratégias de estilo de vida

Viver com lipedema exige disciplina e mudanças de hábitos. É importante evitar longos períodos sentada ou em pé, praticar atividade física regular e adaptada, manter o uso de meias de compressão e seguir uma alimentação equilibrada.

Consultas regulares com especialistas são fundamentais para monitorizar a evolução da doença.

Apoio e informação

Nos últimos anos têm surgido associações e grupos de apoio que oferecem informação fidedigna e suporte emocional às mulheres com lipedema. Estes espaços permitem partilhar experiências, aprender estratégias de autocuidado e combater o preconceito.

O acesso à informação correta é essencial para que cada vez mais pessoas reconheçam esta condição como uma doença legítima e não como um simples problema estético.

Conclusão

O lipedema é uma doença crónica que vai muito além da estética. Conhecida como “doença das pernas gordas”, afeta milhares de mulheres, provoca dor, limitações físicas e impacto emocional.

O diagnóstico precoce, o acompanhamento médico adequado e a adoção de estratégias de autocuidado permitem controlar os sintomas e viver com mais qualidade de vida.

A sensibilização da sociedade é fundamental para quebrar preconceitos e garantir que esta patologia seja reconhecida e tratada com a seriedade que merece.

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AVISO: Este artigo é meramente informativo, não temos capacidade para receitar nenhum tratamento médico nem realizar nenhum tipo de diagnóstico. Consulte o seu médico no caso de apresentar qualquer tipo de condição ou mal-estar.

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